sábado, 20 de julho de 2013

Ops...

Caros poucos amigos que visitam este blog, obrigado pelo prestígio. Agora vou parar com as postagens. Acho que cheguei num limite. Tô com um monte de problemas pra resolver e sei que mesmo depois de resolvê-los não vou querer continuar com isso. Não sinto mais vontade de comentar minhas leituras e todo o resto. Me arrependo de algumas opiniões que externei. Mudei com relação a algumas coisas e sobre muitas outras me sinto incapaz de um posicionamento. O relativismo e o cientificismo - duas coisas das quais nunca gostei muito - estão cada vez mais se insinuando no meu espírito e até eu ter resolvido isso não quero abrir a boca pra nada.
Neste maldito inverno gaúcho, vou levando do jeito que dá. Neste maldito país que só onera seus cidadãos, vou tentando sobreviver com alguma dignidade e independência. Em meio à estupidez reinante, sigo perplexo. Reclamar não adianta, então chega. Vou nessa.

Tentem se dar bem, e se conseguirem, me digam como se faz.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Doa-se um cachorrão

Esse bonitão em três momentos aí em cima é o Capeto, minha atual dor de cabeça. Explico: dentre os muitos cachorros abandonados para os quais dou comida aqui na vizinhança, o Capeto foi o que resolvi adotar pra valer. Foi uma estupidez dupla. Explico de novo: na verdade pedi o Capeto "emprestado" para cruzar com uma cadela bonita que andava no cio e que tirei da rua pra não pegar cria dos guaipecas. A primeira estupidez foi quando o cara da vigilância, dono do cachorro, perguntou se eu não queria o bicho pra mim em vez de tê-lo apenas emprestado e eu aceitei (foi sem pensar... ou seja, estúpido). Mas tudo bem, eu tinha um belo cachorro pra cuidar da casa (embora nunca tenha sido necessário um). O Capeto se revelou um tipo simpaticão (com o perdão do trocadilho). Veio magro e esfomeado (os caras não davam muita comida pra ele), hoje está fortinho e continua esfomeado. É um cachorro búfalo, não sabe a força que tem. Com pessoas é manso, com outros cachorros - se resolvem peitá-lo - é uma praga. A mãe dele, disse o cara da vigilância, é uma pitt-bull. O pai deve ser o Batman, a julgar pelo tamanho das orelhas (e pela esperteza... o bicho sabe até abrir portas).
Buenas... a segunda estupidez foi eu ter adotado o cachorro sem ter certeza do meu futuro imediato. Explico de novo: assim... muito contra a vontade, depois de um ano vivendo com toda a tranquilidade que sempre desejei, vou ter que voltar à vidinha de assalariado. Vou ter de regressar a Porto Alegre (meu dinheiro acabou há tempos e a coisa tá pegando). Quando isso acontecer, muito provavelmente vou morar num apartamento pelo centro. Ou seja, sem chance de ter comigo um cachorro. Ainda mais um vagabundão acostumado a correr por Cidreira inteira. Acho que o simpático merece pelo menos um pátio.
Então esta postagem é pra pedir que alguém adote este bicho, por caridade. Ele tem  muita raça... pode ser um ótimo cão de guarda. De preferência em algum lugar amplo e agradável (uma chácara ou algo assim).
Quanto ao guaipeca Telmo, este volta com o rabo entre as pernas e a cabeça baixa.
É uma vida estranha essa de cachorro.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Ganhando Meu Pão (Máximo Górki). Fazendo Meu Pão (Mario Guerreiro)

Não foi lá muito fácil, mas consegui assar minha primeira fornada de pão integral. Peguei umas receitas na internet e - literalmente - meti as mãos na massa. Os pães não cresceram muito, mas ainda assim ficaram sensacionais. O cheiro, quando tirei do forno ontem, era daqueles de fazer a gente flutuar como nos desenhos animados (rs). Aliás, é foda... não tem cheiro melhor do que o de um pão novo e um café feito na hora, fala a verdade.
As receitas da internet variam muito entre si. Ou seja, "existem mil maneiras de fazer um pão integral... invente a sua!". Essa minha levou farinha de trigo integral, farinha de trigo normal, açúcar mascavo, aveia, sementes de linhaça, leite em pó, fermento biológico, azeite, sal e água. Faltou o gérmen de trigo, que não encontrei no súper. Mesmo assim, a brincadeira custou 25 reais. Se contar a forma, 38. Se somasse o gás, o número crescia, mas comprei (no tempo em que ainda tinha dinheiro) um fogão a lenha de ferro (usado). Aliás foi isso o que me animou a tentar fazer o tal do pão. Aqui na praia o que mais tem é madeira jogada fora. Então nunca vai faltar lenha pra estas minhas experiências culinárias. Beleza, um gasto a menos.
Ainda não fiz o cálculo de quantos pães vou conseguir fazer com os ingredientes que comprei, mas tenho certeza de que só pelo sabor da coisa e pelo que ela tem de saudável já tá valendo a pena.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Como eu ia dizendo...


quarta-feira, 29 de maio de 2013

O mundo acabou


Acho fantástica esta árvore aí de cima. O baobá. Segundo a Wikipédia, existem oito espécies no mundo, seis em Madagascar. No Brasil pode-se encontrar algumas variedades plantadas, principalmente em estados do nordeste. Uma, em Recife, teria inspirado um trecho do Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. São árvores que podem viver de 3 a 6 mil anos, segundo alguns botânicos. Não há consenso da comunidade sobre isso, mas de qualquer jeito é uma árvore impressionante.
Foi lendo sobre os baobás que acabei me interessando por Madagascar. Ainda segundo a Wikipédia, é o lugar com uma das maiores biodiversidades de fauna e flora do planeta. Isso apesar de 90% do território ter sido desmatado. Sabe o que é isso? Noventa por cento? Lá na Wikipédia tem uma foto de satélite da ilha (a 4ª maior do mundo). É triste de se ver. Parece que um câncer foi comendo o lugar.

Estóico
Eu venho, pouco a pouco, me insensibilizando com estas coisas. Acho que é isso: o mundo acabou. Já faz algum tempo. Nós só estamos vivendo os estertores, como alguém bem disse. Em janeiro de 2009 postei aqui no blog este trecho de uma reportagem dum amigo jornalista:
"...em 23 de setembro de 2008, ocorreu o chamado Earth Overshoot Day , "o dia da ultrapassagem da Terra". Institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração do planeta. Traduzindo: estamos consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe."
E por estes dias li num jornal aí que alguns cientistas e geólogos querem dar um novo nome para a época em que vivemos. Bem simples, acaba o holoceno e começa o antropoceno. Depois de 11.500 anos, uma nova época. E por que? Porque a atividade humana está conseguindo mudar a face do planeta numa proporção maior do que a dos fenômenos naturais que estabeleceram o início de outras épocas. Segundo estes estudiosos, o homem move mais pedras e sedimentos do que as forças da natureza, acelera processos de erosão e libera quantidades monumentais de nitrogênio. A área da terra hoje usada para agricultura é do tamanho da América do Sul. Já a pecuária ocupa o equivalente a um continente africano. Isso tudo mudou a dinâmica do planeta. O solo, as águas, o clima e a vida das espécies sofreram o impacto de toda esta atividade.

17 anos de vegetarianismo
Eu moro sozinho aqui na praia e tô levando uma vida bem simples. Construí uma composteira, comecei uma hortinha e comprei um fogão a lenha. Tenho planos de instalar uma cisterna. Apesar da vida pacata, produzo um pouco de lixo. O orgânico boto na composteira, o seco vou juntando até o meu pai vir e levar pra Canoas (aqui em Cidreira não tem coleta seletiva). Hoje em dia não penso mais, mas antigamente ficava angustiado imaginando as milhares de toneladas de lixo produzidas diariamente em cidades como Porto Alegre (por cujas calçadas imundas – antes dos contêineres - eu passava). E o esgoto? Nada agradável visualizar mentalmente o encanamento dos prédios e casas de uma cidade grande, repletos de cocô e indo desembocar no rio. Sim, tem o tratamento e tal, mas é bem nojento saber que bebemos uma água com uma quantidade “tolerável” de coliformes fecais.
Vou repetir uma frase do filme Matrix: o homem é um câncer no planeta. E tudo fica pior quando o vírus-homem adota o capitalismo (sei que parece anacrônico-panfletário-intempestivo-rançoso-dogmático-ingênuo-etc o uso dessa palavra... mas não tem outra... se não é isso, é o que então?). Aí o azeite do capitalismo – o consumismo – estimula os pequenos corpúsculos acelerando o processo de degradação do corpo hospedeiro - a boa e velha terra.
Não vou salvar o planeta com a minha hortinha e composteira. Mas sabe o que é pior? O Greenpeace, também não vai. Nem o Sea Shepherd. Nem a WWF. Ninguém vai. Acabou. Estertores, crazy people... estertores.
O homem, a humanidade, é um corpo só. Tem um Telmo aqui, um fulano ali, um sicrano acolá separando o lixo, não comendo carne (sobre isso, este artigo), andando de bicicleta e tal, mas o mundaréu de gente que forma o real corpo da humanidade, o corpo que faz a história, é autodestrutivo. As celulazinhas esfomeadas e irracionais vão comer o hospedeiro até não ter mais nada. Você pode até pensar: eu não vou deixar de comer carne, porque o problema não sou eu e sim a grande indústria e as concentrações humanas onde o consumo é desproporcional (como os EUA, que representam 5% da população mundial mas consomem 32% da produção do globo). Buenas, parece uma verdade. Uma verdade pra você e pra mais alguns bilhões de indivíduos no mundo. Bilhões de pessoas que não vão mudar seus hábitos porque acham que não são os causadores do problema. Mas se são bilhões consumindo o seu bifezinho todos os dias, faça o cálculo... Bem na boa, meu amigo carnívoro: tá na hora de assumir parte dessa culpa.

A literatura e o fim
Tô lendo um livro do Chuck Palahniuk (Assombro - famoso por causar desmaios nos leitores) e tem um trecho onde um personagem diz: “...adoramos doenças. Câncer. Adoramos terremotos... adoramos incêndios florestais, derramamentos de petróleo e assassinatos em série... Adoramos terroristas, sequestradores, ditadores e pedófilos... adoramos poluição. Chuva ácida. Aquecimento global. Fome”. Esses adoradores são o corpo único do qual eu falava. Não é difícil perceber uma coisa dessas. Enxergar que o homem busca irracionalmente o próprio extermínio. Eu vejo isso quando passo por um pátio de concessionária abarrotado de carros, quando vejo uma indústria gigantesca produzindo entretenimento inconsequente, que só vai intensificar os hábitos consumistas e destrutivos já existentes. Vejo isso quando assisto TV. Vejo nas revistas que não precisavam existir. Nos jornais que não sabem direito de que lado da humanidade estão. Vejo isso nos meus amigos fumando, nos meus amigos se enchendo de trabalho e de remédios. Vejo o fim quando, aparentemente, todo mundo projeta sua paixão numa coisa estúpida e perpetuadora de injustiças como o futebol. Vejo isso quando igrejas ganham fiéis aos roldões apesar da exploração descarada. Enfim, dá pra ver isso em cada pequena atitude - de quase todo mundo - que visa apenas a satisfação imediata de uma necessidade, não importando as consequências.
Mas como eu disse, venho me insensibilizando. Sou agora um espectador do fim. Já há algum tempo penso sobre isso de as coisas, numa determinada hora, acabarem. Aquele negócio de ficar lendo sobre tempo geológico e o tamanho do universo... buenas, tudo isso faz a gente mudar a perspectiva. Lembro de uma frase do filme Watchmen (criado a partir da sensacional HQ de Alan Moore): “a existência humana é um evento superestimado”. Talvez seja mesmo e talvez eu esteja me preocupando à toa com o que vai ser da humanidade. Foda-se a humanidade. Ou pelo menos foda-se a minha preocupação.
Quando alguns amigos estudantes de ciências sociais – os da antropologia, principalmente – vinham com aquela conversa da necessidade de preservar culturas, eu pensava com meus botões: mas se já disseram que no futuro só vai existir inglês, espanhol e mandarim... porque esses caras insistem? Depois, lendo algum artigo da Geográfica Universal ou da Superinteressante, eu pensava também: ah, que triste! Mais um bichinho em algum canto do planeta foi extinto... mas não deve ser tão grave, afinal a história do planeta terra já teve catástrofes naturais que acabaram, de uma tacada só, com muito mais espécies do que o homem conseguiu exterminar até agora. E assim eu fui chegando a esta pergunta: será que não vivemos realmente no melhor dos mundos possíveis (Leibniz/Voltaire)? Ou mesmo esta: será que esta pergunta é pertinente?

O escritor britânico Martin Amis escreveu uma história intitulada “O Zelador de Marte”. Faz parte do livro “Água Pesada e Outros Contos”. É sensacional. Faz muito tempo que li e já não lembro direito, mas aquele conto me fez pensar sobre muitas coisas. A história trata de uma comissão terrestre formada por alguns cientistas e outras personalidades, tripulantes de uma nave que vai a Marte a convite de um robô, que estaria lá há muitos anos esperando o momento certo para contatar a humanidade. Esse robô narra para os embasbacados terrestres a saga dos ex-habitantes do planeta vermelho. É uma história doida, cheia de elementos de ficção científica e informações astrofísicas. E muito engraçada também. Sugiro com veemência que seja lida (tenho o livro, se alguém quiser comprar). Entre as muitas coisas que me ficaram na lembrança, penso sempre num trecho onde o zelador de marte (o robô) compara a evolução marciana à terrena e diz “... enquanto isso, lá em cima, em Marte... ... Somos os senhores do nosso ambiente, nos livramos de todos os animais, dos oceanos e de tudo o mais, e das flutuações troposféricas a que vocês denominam clima”. Aí então penso se não é isso que tá acontecendo por aqui, se não vamos caminhando pra um futuro onde poderemos prescindir da natureza. Tem tanta coisa maluca acontecendo: cibernética, biotecnologia, nanotecnologia, genética, robótica, etc... Talvez o futuro seja mesmo um lugar sem árvores e todo o resto. Talvez seja um lugar pra uma nova forma de vida. Mas mesmo que seja assim, parece que existe um risco bem grande de acabarmos com tudo antes de chegar lá.

Olha as minhas preocupações!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Eu queria ser o Frank Miller


Página de uma HQ que eu tava querendo fazer. Desisti. Desisti, como sempre desisto. Achei o resultado muito ruim, muito aquém do efeito que eu buscava. Saco isso...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Que sarro...

O Hunter Thompson pode se revirar no túmulo, mas que isso é muito engraçado, é.

domingo, 26 de maio de 2013

Jamil Snege. Outra vez.


Há cinco anos, logo no início deste blog, escrevi um texto sobre o escritor curitibano Jamil Snege. Este. Agora, tanto tempo depois, começou uma procura pelos livros dele. Eu tinha 6 exemplares - de títulos diversos - à venda na Estante Virtual, e de repente, em menos de um mês, foram-se todos. E não foram baratos (claro, eu sei do meu produto... mesmo que ninguém conhecesse, eu sabia que aquilo era material de primeira). Fiquei intrigado com esse interesse súbito e fui ver se descobria o porquê na internet. A razão é simples: faz dez anos que o cara morreu. A imprensa tá fazendo um pequeno resgate. Nada de muito estardalhaço, mas ainda assim visível o suficiente para despertar a curiosidade em alguns leitores mais atentos. Estes - se conseguirem os livros - vão ter contato com um escritor sensacional que merecia ser muito mais conhecido, diga-se logo (é uma lástima, o homem sequer tá na Wikipedia). Merecia, mas é pouco provável que venha a ser. O Snege publicou poucos títulos e de pequenas tiragens. A reedição destas obras, parece, está entravada por uma questão judicial e pela vontade do próprio autor. Seus livros são agora artigos raros. Se eu não estivesse precisando TANTO de grana, não teria vendido os meus. Buenas, sigo me convertendo num filisteu*. Resta mentir que sou tão nobre de alma que precisava passar adiante aquelas maravilhas, uma vez que já tinha lido e que venho tentando concordar com quem diz que lugar de livro não é na estante. É, resta isso...

*Wikipedia: A palavra filisteu, no sentido não histórico, refere-se à pessoa deficiente na cultura das Artes liberais, um oponente intolerante do boêmio, quem exibe um código moral restritivo, desapreciador das ideias artísticas.
A partir do século XIX, na Europa, a palavra "filisteu" passou a designar pessoas de comportamento acovardado, que têm ojeriza por questões políticas maiores, não valorizam a arte, a beleza ou o conteúdo intelectual e satisfazem-se com o cotidiano da vida privada pacata e confortável. O filisteu não seria adepto de ideais, mas apenas de propostas práticas passíveis de serem contabilizadas em melhorias para sua vida privada imediata. "Filisteu da cultura" é um conceito criado pela intelligentsia alemã do séc. XIX e recebeu análise filosófica de Nietzsche em Primeira Consideração Intempestiva). 

terça-feira, 14 de maio de 2013

A vida pulsante das ruas

Tirando o visual extravagante de uns e outros, acho sensacionais esses caras. O que eles fazem. O primeiro vídeo é de Parkour, um negócio que consiste em fazer miséria pelas ruas das cidades. Foi criado na França. O segundo é de break dance (ou street dance, conforme preferem alguns). Um dia vai se descobrir que os caras que fazem isso na verdade são de uma raça alienígena que não possui articulações. Eles fingem que são humanos só pra deixar as pessoas constrangidas. E o último vídeo é de um lance chamado Workout (street workout, fitness workout, workout motivation, nomes diversos). Os mais legais que vi são os tchecos e ucranianos, mas tem de vários lugares. Também se pode ver alguma coisa disso - no YouTube - numas séries chamadas "People are Awesome", mas aí é uma mistureba, vai desde malabarismos criativos a demonstrações de mega atletas (potenciais suicidas) com os quais nunca dá pra conversar, porque os caras vivem, no mínimo, a 200 por hora.


domingo, 12 de maio de 2013

O tempo...

Ok, momento ego total (o quê??? mais do que vinha sendo até agora?!!!). É... mais. Se alguém se der ao trabalho de procurar, vai ver que a terceira postagem feita neste blog - lá em fevereiro de 2008 - intitula-se "a inexorabilidade do tempo". São imagens de uma família que se fotografa todos anos (desde mil novecentos e lá vai pedrada) e nas quais se pode perceber a juventude indo embora aos poucos (triste, né?). Eu tentei fazer algo parecido aí em cima, mas por mais narcisista que eu seja, não consegui juntar uma foto de cada ano. E claro, o narcisismo aí é completamente injustificado: um cara sem sobrancelhas, com orelhas de abano e cada vez mais careca (sem falar na pose, quase sempre a mesma, pra disfarçar o vertiginoso desvio de septo)... tsc, tsc, tsc.  Buenas, o ego é grande, admito, mas não se trata apenas disso. Trata-se de um gancho pra dissecar outros assuntos. A partir de mim, claro (o Protágoras já não dizia que o homem é a medida de todas as coisas? Então sente o silogismo: Telmo é homem, logo Telmo é a medida de todas as coisas (ah, meus tempos de filosofia!)). Na verdade a verdade mesmo é que estou meio que vivendo um pânico controlado (não é figura de linguagem, já tive crises de pânico - lá pelos meus 21 - e sei do que estou falando). Tá caindo a ficha de alguma coisa que eu ainda não consegui definir bem, mas acho dá pra simplificar dizendo que é a maldita crise dos 40 (deve ser isso... SÓ PODE SER ISSO).
Quando entrei na Filosofia, em 2005, era um cara de 33 que rapidamente se enturmou com a gurizadinha recém saída do 2º grau. Eles tinham 18, 19 e eram uma gente fantástica. Eu tinha quase o dobro da idade deles, mas isso não me incomodava. Me sentia jovem, jovem como eles. Mas agora, de repente, CABRUM!!!! caiu em cima de mim esse negócio: VELHO! Quando foi exatamente? Não sei. Comemorei meus 40 anos num barzinho da Cidade Baixa, cercado de bons amigos e me achando um cara até que inteirinho pra 40. Não fiz 42 ainda, como pode o meu astral ter mudado tão radicalmente em pouco mais de um ano? Porque estou me sentindo em fim de carreira? Será alguma coisa a ver com o fato de estar vivendo quase como um eremita aqui no litoral? O que me fez abrir os olhos de repente e começar a ver que todo o meu mundo envelheceu? As pessoas da TV, meus antigos amigos, meus antigos colegas de trabalho, as crianças da família, meus pais... Por que, de repente, me dei conta de que o tempo passou pra todo mundo? Por que antes não era assim? O que mudou? Alguém sabe de alguma teoria esotérica, alguma explicação baseada em física quântica, qualquer coisa, enfim, que responda POR QUE??? Tô aceitando de tudo pra acabar com esta angústia.
Uma vez alguém disse: jovens, envelheçam (eu poderia procurar isso no Google, mas tô com preguiça). Aí o Caetano Veloso (parece que foi ele) disse: velhos, rejuvenesçam. Claro, o Caê deve dividir comigo a opinião de que a juventude é coisa mais linda que existe (é irônico, pois a figura do Caetano é uma das coisas que mais me faz ver que o tempo passou. Todos aqueles caras da MPB que a gente gostava estão velhos, beeem velhos). E sim, eu presto um tributo constante à minha juventude - que nem foi tão sensacional quanto eu desejei, mas era juventude afinal de contas. Eu GOSTAVA de ser jovem, eu queria ser jovem pra sempre. Não sei quanto aos outros "novos" quarentões do pedaço, mas pra mim tá sendo barra. As razões para isso são várias, mas talvez a principal delas seja o fato de que dia desses me peguei protelando pela bilionésima vez algum projeto (de música ou de desenho) e uma voz interior me disse: cara, tu já não pode se dar a esse luxo... na real, tu já demorou demais... já era pra ter feito há muito tempo. E a voz continuou: te liga, sem-noção... aquela tua síndrome de Peter-pan já não tem mais onde se escorar... olha tua carinha no espelho e aceita, el tiempo pasa!
Tenho um amigo da mesma idade passando por crises parecidas. No caso dele o que parece estar pegando é o fato de que não produziu nada para a posteridade. O cara tem (ou tinha) pretensões artísticas, mas não escreveu o livro que a Companhia das Letras quer publicar, não desenhou a HQ ganhadora do prêmio Eisner, não deixou, enfim, o nome na calçada da fama. Isso não me torna melhor nem pior, mas preciso dizer que a minha frustração é de um matiz diferente: há muito tempo estou resignado com isso de não ter produzido nada de significativo no campo das artes. Tentei várias vezes, mas não foi demorado - e nem traumático - pra perceber minha mediocridade e aceitar o fato de que eu não tinha nada pra dizer (nada de original, pelo menos). As coisas são como são, um Rimbaud ou um Orson Welles não nascem todo dia. É aceitar isso ou nutrir a esperança de ser como o Kant, um cara que só foi produzir algo significativo (e bota significativo nisso: A Crítica da Razão Pura) quando tinha 57 anos. Um consolo para os de alma nobre que fazem arte pela arte, mas para mim o virtuosismo artístico deveria andar sempre de braço dado com o vigor da juventude, que sabe torná-lo mais festivo e sabe também usufruir melhor dos seus frutos. Tudo bem, sei que há controvérsias, mas ainda não sou velho o suficiente pra abrir mão desta opinião.
Mas voltando: se eu não compartilho o tipo de angústia do meu camarada, porque me incomoda o fato de não mais poder protelar meus projetos artísticos? Parece contraditório, uma vez que eu já havia aceitado minha incapacidade de dar ao mundo uma obra de arte de valor. Buenas, não se trata de preocupação com a obra, trata-se de preocupação (indignação) com vitalidade. Não vou morrer de desgosto se o mundo não souber quem é o Telmo, mas vou ficar muito triste por não poder mais brincar (simplesmente brincar) com a possibilidade de, quem sabe por acidente, acabar produzindo alguma coisa legal afinal de contas. E como tenho aquela opinião sobre virtuosismo/juventude, é claro que daqui pra frente só vou esmorecendo. Dá pra entender? Eu não queria perder o lúdico da coisa, e o lúdico da coisa não tem nada a ver com um senhor maduro. Por favor, não pensem que sou preconceituoso. É claro que velhos também podem brincar, mas não do mesmo jeito que jovens. Quer um exemplo? Tome um porre (de cerveja barata, sentado no meio fio) aos 20 e tome outro aos 40. No dia seguinte fale comigo. Essa é apenas uma das minhas ideias de diversão. Eu sei que com a idade os prazeres mudam, mas é foda... eu penso como o Jack London, a plenitude física tem muito valor pra mim. Talvez acabe morrendo da forma triste que ele morreu (e também o Nietzsche, um cara que por sinal o London admirava). Ou talvez a ciência descubra uma forma de garantir a imortalidade. Hum... pois é, mas a imortalidade não me interessa. Eu quero morrer um dia e passar logo pra fase seguinte, se é que ela existe. E quero ficar jovem até esse dia. É foda...


terça-feira, 30 de abril de 2013

Foi num 1º de maio

Um pouco mórbido talvez, mas não me contive e decidi botar esta história aqui no blog. Há 66 anos, num 1º de maio, uma moça se jogou do 86º andar do Empire State Building. O fato ficou conhecido como "o suicídio mais bonito do mundo" (parece que o Andy Warhol pintou uma tela sobre isso). Havia um fotógrafo por perto quando a bela moça "aterrisou" sobre uma limousine. O cara fez o registro e não dá pra negar que tem uma plasticidade bonita.
Convicções religiosas à parte, o suicídio tem mesmo um potencial pra beleza. Nos filmes, principalmente, ele já rendeu cenas memoráveis (agora só consigo lembrar de Thelma e Louise e, o meu preferido, As Invasões Bárbaras, mas sei que tem vários outros). Na vida real poderia resgatar o do escritor japonês Yukio Mishima, que cometeu o seppuku, suicídio-ritual lá dos malucos. Aliás, entre escritores o negócio é farto: Hemigway, Jack London, Hunter Thompson, Sándor Márai e por aí vai. O Sócrates, quando resignou-se a tomar a tal da cicuta (não confundir com sukita), também protagonizou um suicídio de beleza com um "quê" existencial. E tem a literatura... tantos e tão bonitos os suicídios: Romeu e Julieta, Werther, Mme. Bovary (tá, esse não foi muito bonito), Gilliat (Trabalhadores do Mar - Victor Hugo) e... e... outros... ando meio esquecido.
Buenas, mas chega de falar de morte (é que sou de escorpião, com ascendente em capricórnio...). Era tudo uma desculpa pra publicar esta foto. Quem souber ler em inglês, pode ver a história com maiores detalhes aqui.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A outra propaganda...

Achei. Agora, olhando de novo, já não gostei tanto quanto anteontem, quando vi na TV. É bem feitinho e tal, mas talvez o problema seja exatamente esse: estética Zaffari, como alguém bem disse. Seria legal se fosse bem feitinho e menos padronizado. Buenas, na pior das hipóteses merece elogios por ter fugido àquela estética de propaganda institucional, diametralmente oposta a do Zaffari, mas não por isso boa.
E hoje, no Globo Repórter (daqui a pouco, na real), segundo meu irmão River, vai passar uma reportagem sobre Canoas, os Territórios de Paz e o sistema de monitoramento usado na cidade. Hum... talvez a coisa mereça mesmo um destaque, mas não consigo deixar de pensar naquilo que escrevi no post anterior. Vou olhar pra confirmar ou descartar essas suspeitas.

Não consegui fazer o upload do vídeo (foi postado há apenas 4 dias... talvez por isso), mas o link é este:
http://www.youtube.com/watch?v=rmW971GSek0

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Propagandas

Tenho visto um pouco de TV, durante a noite. Tá a merda de sempre, mas uma que outra coisa vale um registro. Vi duas propagandas que me chamaram a atenção. Uma da Prefeitura de Canoas, lugar onde já trabalhei - na Sec. de Cultura - e outra dum novo carro da Peugeot. A da prefa me impressionou pela qualidade. Muito bem feita, mesmo. Infelizmente não achei no YouTube pra colocar aqui, mas tá passando na TV meio direto, eu acho (deve fazer parte da campanha não oficial pra popularizar a figura do Jairo Jorge, atual prefeito, que tem planos de ser governador do Estado - planos que contam, me parece, com a simpatia da RBS (deus nos livre!!! que eu esteja errado, por favor!!!)).
A outra propaganda também é muito bem feita. Criativa e nostálgica. Resgata os personagens do antigo desenho animado da Hannah-Barbera, Corrida Maluca. Perfeito. Tá na TV, mas resolvi postar aqui... uma espécie de tributo às tardes (ou manhãs... não lembro) divertidas da minha infância.

sexta-feira, 15 de março de 2013

This is a Rebel Song - Sinéad O'Connor

Meus amigos mais rockeiros vão me chamar de bicha-gay-viado-etc. Acho que os não-rockeiros também (na real, os camaradas vivem se xingando assim). Que chamem... não me importo. Nada vai mudar. O que me importa agora é compartilhar esta música com outras pessoas e talvez enternecê-las também. Cada vez que ouço - e tenho ouvido muito, porque achei muito bonita -, choro. Poderia dizer que "ando meio à flor da pele", mas a verdade é que a voz e as músicas da Sinéad O'Connor sempre me comoveram. Andava sem ouvi-la já há bastante tempo. Em alguma das minhas "limpas", tinha me desfeito de seus CDs. Também não ouço muita música no computador (gosto de música, mas não sou aquele tipo de pessoa que está SEMPRE escutando). Voltei a encontrá-la porque, dia desses, desfazendo-me de vários outros CDs, acabei pegando na troca uma coletânea de alguns dos seus maiores sucessos: So Far... um nome bom pro disco e bom pra mostrar há quanto tempo eu não comprometia minha sexualidade chorando ao ouvir uma música.
Bem, essa "This is a Rebel Song" me era desconhecida. Ouvi a primeira vez e achei bonita, mas guardei o CD e não tornei a escutá-lo por algum tempo. Aí, dia desses, ouvi de novo. Continuei achando bonita, mas não fazia a menor ideia do que dizia (meu ouvido inglês é meio surdo), então fui buscar a tradução na internet. A partir daí me pegou. A letra me fez gostar ainda mais da música e fiquei impressionado comigo mesmo: como pude achar essa composição apenas bonita quando, na verdade, é linda?
Sugiro a leitura da letra (e sua tradução) antes de ouvir/ver a música. Faz ter uma outra percepção da coisa. Tentei entender se era uma canção de amor (como a cantora diz no vídeo) ou uma música política, como o título sugere. Nos comentários do YouTube muita gente diz que se trata de um protesto contra a opressão dos ingleses sobre a Irlanda. Não sei... é bela de qualquer jeito.


I love you my hard englishman
Your rage is like a fist in my womb 
Can't you forgive what you think I've done 
And love me - I'm your woman 
And I desire you my hard englishman 
And there is no more natural thing 
So why should I not get loving 
Don't be cold englishman
How come you've never said you love me
In all the time you've known me 
How come you never say you're sorry 
And I do
Ah, please talk to me englishman
What good will shutting me out get done 
Meanwhile crazies are killing our sons 
Oh listen - englishman 
I've honoured you - hard englishman 
Now I am calling your heart to my own 
Oh let glorious love be done 
Be truthful - englishman
How come you've never said you love me
In all the time you've known me
How come you never say you're sorry
And I do
I do

Eu te amo, meu duro inglês
Sua raiva é como um soco no meu útero
Será que você não pode perdoar o que você acha que eu fiz?
E me amar, eu sou sua mulher...
E eu te desejo, meu duro inglês
E não há nada mais natural
Então porque eu não mereço amor?
Não seja frio, inglês
Como é que você nunca disse que me ama
Em todo esse tempo em que me conhece?
Como é que você nunca pede desculpa?
E eu peço...
Oh, por favor, fale comigo, inglês
Que bem vai fazer em me calar
Enquanto loucos matam nossos filhos?
Agora escute, inglês
Oh, eu te honrei, duro inglês
E agora eu estou chamando seu coração pra ser meu
Oh, deixe o glorioso amor ser feito
Tenha fé, inglês
Como é que você nunca disse que me ama
Em todo esse tempo que me conhece?
Como é que você nunca pede desculpa?
E eu peço...
Eu peço...

segunda-feira, 11 de março de 2013

Amores perros


Dia desses apareceu um amigo da antiga aqui na praia. Os pais dele moram no bairro ao lado, então o cara veio vê-los e deu uma esticada até a minha humilde residência (foda-se Michel Teló, não vou deixar de usar essa expressão por tua causa, seu sertanejo/pagodeiro sei lá o que dos infernos!!!). Daqui fomos pro centro tomar umas cervejas e de lá pra casa dos velhos dele, onde uma mesa de bilhar impecável iria testemunhar as tacadas mais infelizes que um sujeito pode dar (eu). Depois de perder várias partidas pro meu amigo e pro pai dele, voltei pra casa. A mãe desse meu amigo tem cinco cachorros no pátio e dá comida pra mais uns cinco da rua. Pude ver que havia, inclusive, casinhas na calçada pra esses cachorros de ninguém.
Não é incomum isso. Aqui na praia já vi outros casos. É cachorro demais. Abandonados demais. Tem gente que compra um cachorro apenas para o veraneio. Termina a praia, voltam pra cidade, mas o bicho fica. Dá pra acreditar numa coisa dessas? Outros abandonam por aqui cachorros que já são da família há tempos. Assim... simplesmente vão e deixam o bicho pra trás, largado à própria sorte.
Algumas almas condoídas se apiedam dos guaipecas e passam a alimentá-los. A mãe do meu amigo disse que gasta em torno de 200 reais por mês com os cuscos. Brinquei com ela dizendo que, atualmente, não ando gastando 200 por mês nem comigo mesmo, imagina com cachorros!!!. Não sou fissurado em animais (já escrevi um texto sobre essa doença que acometeu as pessoas na cidade), todavia sou decente: tenho muita pena desses bichos. A comida que dou pra eles é resto de carnes que consigo de graça num açougue aqui das redondezas (às vezes não tem, então acabo indo a outros açougues, onde tenho que pagar por esses restos). Depois ainda gasto com o gás e (minha mãe que não leia isso) com os tabletes de caldo de galinha que sobraram por aqui (não sei usar esses trecos). Na maleza que tô, com a grana contadinha até pro meu rango, fica difícil dispender mais do que isso.
Fico pensando no que será destes cachorros se um dia eu for embora (coisa bem provável, considerando meu histórico). Quem vai alimentá-los? A verdade é que me apeguei aos pulguentos. Não os trago para dentro, não vou lá enchê-los de mimo e não dou mais do que o estritamente necessário para que não morram de fome, mas gosto deles. Com o passar do tempo, vi que cada um tem um jeito, um comportamento. Queria que tivessem a sorte de ser adotados. Todos eles:

- o Benji (os nomes, na falta de outros, foram dados por mim) é o meu preferido. É um cachorro mais pra pequeno, branco. Tem um pelo ralo e meio comprido. Dá pra ver a pele por baixo. Ele é todo malhado, parece um dálmata, mas os pelos são apenas brancos. Na cabeça esse pelo um tanto comprido dá uma aparência simpática pro guaipeca. Eles caem um pouco nos olhos e parecem uma pequena barba. Está sempre “esgualepado” (palavra que acho perfeita pra ele), com carrapichos e pedaços de grama grudadas no corpo. As orelhas sempre machucadas. Esta semana, como tinha um sangramento e as moscas tavam infernizando o coitado, passei um álcool pra aliviar. Assim como os outros, é normal o Benji aparecer mancando de alguma perna. Isso acontece porque eles avançam nas motos que passam na rua e, às vezes, acabam sendo pegos por elas. Outras vezes é por causa de espinhos e/ou rosetas. Quando percebo, vou lá e tiro. Ah, também pode ser por causa de brigas com outros cachorros. O Benji, aliás, é cheio de marcas pelo corpo. A bicharada se pega pra valer por aqui. Observo esse comportamento. É interessantíssimo. A hierarquia, o estilo de cada um. O Benji respeita o Ruivão – o macho dominante - mas é o único da turma que se bota no Capeto, um cachorro lindo (lindo mesmo, queria pra mim) que corre Cidreira inteira atrás das motos dos caras da empresa de segurança, seus donos. Ele (o Capeto – nome que tb inventei) vai onde quer e peita qualquer um. Quando passa aqui na rua, a cachorrada fica alvorotada: latem, correm atrás, uivam e tem um que até chora. O único que se engalfinha com ele de vez em quando é o Benji, que é bem menor. Injustiça com o Capeto, que parece apenas querer ser amigo de todos eles.
- a Cléo é a minha segunda preferência. Ela é toda preta, de porte pequeno/médio também. Um pelo negro e lustroso. A língua é meio roxo/azul, como a dos Chow-chow. Tem um corpo esguio, um tipo elegante. Porque me lembrava aquelas esculturas egípcias com cabeça de cão, batizei-a Cléo (Cleópatra). E embora pareça contraditório com a figura egípcia, a cabeça dela leva uma semelhança sutil com a de um pitt-bull, mas não tem nada de feroz, pelo contrário, é uma lady. Quando a cachorrada enlouquece pela presença do Capeto ela é a única que está lá, tranqüila no canto dela parecendo não entender direito o porquê de tanto barulho. No início ela era muito tímida, demorou bastante pra se aproximar. Quando finalmente veio, peguei uma tesoura e cortei a coleira que ela tinha no pescoço e que fazia com que arrastasse uma corrente. A Cléo já parece ser a segunda na hierarquia da matilha. Exceto pelo Ruivão, ninguém rouba a comida dela.
- o Ruivão. É um cachorro já velho que o pessoal da volta chama de Aipim. Botei um nome mais elegante. Ele tem uns olhos sensacionais... grandes e meio ressabiados. O nariz é descolorido, bem de alemão mesmo. Aliás, um focinho que tá sempre escalavrado das brigas em que se mete. O Ruivão não arrega pra ninguém, mas com o Capeto nunca vi ele se meter. Late, chega junto, mas não passa disso. O corpo, apesar de velho, passa uma impressão de força. Tem rabo pitoco e pelo jeito já perdeu alguns dentes. Quando dou comida pros pulguentos, boto todos pra dentro do pátio e deixo o Ruivão na rua, do contrário ele não deixa os outros comer. Ainda não descobri, apesar de toda a riqueza de “personalidades” que percebo neles, um cachorro que não seja egoísta quanto à comida. Nessa hora a lei é: quem é forte come, quem é fraco passa fome. O Ruivão já teve pretensos rivais, mas botou todos pra correr. Volta e meia aparece algum cachorro novo e se integra ao bando. Teve um que chegou rosnando e nem era pra tanto, pois era do tipo pequeno/médio também. Passava pelo Ruivão e mostrava os dentes... o Ruivão na dele. Esse outro cachorro era hiperativo, não parava quieto um instante (aliás, já vi vários deste tipo desde que comecei a observar essas figuras). Parecia estar se impondo na maior. Um dia veio a hora da bóia. Esse cachorro foi pegar um pedaço de carne que joguei e nem viu o que o atropelou. Na real nem eu vi. O Ruivão se arremessou contra ele como um jogador de futebol americano. Não deu tempo nem de o bicho entender o que tava acontecendo. Foi uma sova. Pensei: mais um que terei de botar pra dentro do pátio na hora do rango... mas esse desapareceu da rua. Outra vez apareceu um cachorro grande, muito bonito, de pelagem branca e volumosa. Não tinha como não chamá-lo de Lobo. Ele e o Ruivão se pegaram algumas vezes. Ora um, ora outro levava a melhor. Nenhum desistia. Eu e meu pai separávamos as brigas com jatos de mangueira (tentamos antes bater neles com um pau, mas eu jamais bateria com força e então não adiantava nada). O Lobo, pelo jeito, era um cachorro recém abandonado, acostumado a viver num pátio. Ele entrava no nosso e não tinha jeito de tirá-lo pra rua. Queria ser aceito na marra, o coitado. Dava pena de ver a obstinação, quase que uma súplica nos olhos: deixe-me ficar aqui, por favor. Mas ele era um problema. Enquanto os outros se contentavam em ladrar para os estranhos, ele avançava mesmo e aconteceu de morder gente. Um dia desapareceu. Espero que esteja bem. Gostaria de vê-lo preso num pátio qualquer dia desses.
- o Mickey é um machinho pequeno. Não gosto dele. É o menor da turma e o último da hierarquia. Não tem muito o que fazer, o naniquinho. A criançada o adora e aquelas pessoas que gostam de cães pequenos também. Eu sei que ele é um covardezinho (é o que fica chorando quando o Capeto passa). Se aparecem cachorros estranhos, ele é o primeiro a latir e avançar, mas porque sabe que a turma dele vem atrás. Sozinho, ele corre se enfiar no primeiro buraco que vê. Também é um puxa-saco, fica tentando agradar os cachorros maiores. Quando pego a bicicleta e vou ao centro resolver qualquer coisa, três deles (o Benji, a Cléo e o Mickey) vêm atrás de mim. É um saco. E perigoso também. Fico com medo de que sejam atropelados. No meio do caminho passamos por vários outros cachorros. O Benji dá um jeito de contorná-los ou enfrenta. A Cléo também. O Mickey enfia o rabo entre as pernas e sai em desabalada de volta pra casa. Agora, sempre que saio, dou jeito de deixá-los trancados no pátio. Às vezes encontro bagunça quando volto, mas prefiro assim. Um dia, tendo deixado todos presos, encontrei o Mickey na rua. Até hoje fico imaginando como o pequeno pusilânime escapuliu. Outro dia aconteceu o mesmo com o Caramelo.
- o Caramelo é o mais novo da turma. Novo na idade (é pouco mais que um filhote) e novo na afiliação à matilha. Simpatissímo o camaradinha. Pelagem clara, meio amarelo (daí o nome Caramelo, que não fui eu quem deu, mas sim uns gurizinhos que moram na outra quadra e pra quem prometi fazer uns bodoques (funda, estilingue, atiradeira (vai saber que parte do Brasil tá lendo este texto))). O Caramelo tem orelhas compridas e caídas e patas fortes, o que sugere um cachorro grande quando adulto. Tá sempre brincando. Não tem muito o que falar dele, pouco tempo de observação. Sei que é um esfomeado... mas isso, quase todos são.

Então, assim... queria pedir umas coisas:
1 - não abandonem seus cachorros;
2 - esterilizem as fêmeas (uma injeção é baratinha);
3 - se você tem condições, adote um guaipeca... eles são bem legais.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Nova empreitada

Já há algum tempo venho acalentando a ideia de fazer um blog só de tiras e cartuns. Humor exclusivamente. Um de mau humor eu já tenho (este), então pensei em mudar um pouco o tom. Não me iludo, sei que a retórica de bronco não vai me abandonar assim tão fácil, mas a vida me ensinou que a prática obstinada pode levar a alguns resultados insuspeitados. É o que tentarei. Vou me auto-flagelar todas as noites para conseguir manter o novo blog com uma atualização decente (ia dizer "uma postagem por dia", mas é melhor evitar promessas ousadas demais nesse momento de empolgação).
Tem um desenho aí ao lado (depois que este texto estiver lá embaixo no blog, será o desenho lá em cima) que remete direto ao Tiraqueeuboto.blogspot.com.br, nome malandrinho com que batizei o danado do blog.
Tô recém começando, então peço um pouco de paciência.
Aí embaixo uma mostra da técnica nova que venho usando nas tiras. É um horror, eu sei. Um macaco com mal de Parkinson teria mais domínio de aguadas e aquarelas, mas li um negócio no blog do Allan Sieber esses dias e achei interessante: o legal de usar tintas e pincéis é NÃO SABER usar tintas e pincéis. Buenas, é isso... eu podia tá roubando, podia tá matando...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

No verão...

Não tenho colocado coisas no blog. Fui acometido por uma apatia/deprê de fim/início de ano (que aparenta querer se estender). Simplesmente não acho o que escrever. Ou acho, mas depois de digitar um monte de caracteres vejo a coisa sem importância. Talvez devesse publicar estes textos mesmo assim, não seriam tão piores que os outros - que, afinal, serviram para o que mesmo? Toda essa faina, esse ciscar miúdo...
Andei lendo alguns livros, poderia escrever sobre eles, mas simplesmente não tenho saco.
Aqui na praia o verão está acabando. Meu pai alugou a casa da frente pra diversas famílias durante o veraneio. Eu fiquei na meia-água dos fundos. Tinha muita gente na volta, me incomodou e mexeu com o meu cotidiano, mas quando eles foram embora bateu uma deprê fenomenal. Senti como se estivesse perdendo alguém.
Não pulei carnaval e não comi ninguém, mas peguei sol. Não tinha um papo de que o sol era bom pra produção de serotonina ou alguma outra dessas substâncias que fazem a gente se sentir bem? Buenas, já que o sol não surtiu efeito, vou entrar num ritmo puxado de exercícios. Vou ficar fortinho (não muito, porque sou baixinho e, depois de baixinho de sobretudo, a coisa mais ridícula que existe é um nanico musculoso - não que altões musculosos não sejam também um tanto esdrúxulos).
Buenas... vou tentando não enlouquecer. Talvez fosse melhor voltar à civilização. Antes de desistir vou tentar mais algumas coisas. Meditação, por exemplo.
Não é mole ser humano.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Email pra um amigo

Cara... têm acontecido coisas sinistras à minha volta. Lembra que te falei que um carro pegou fogo quase do meu lado? Pois é... naquele dia voltei pra casa vendo um monte de peixes mortos na beira do mar e depois mais três gaivotas, mortas também. Quando tô chegando em casa, uma caixa cheia de filhotes de cachorro. Todos com muita sarna e um deles, fora da caixa, já com uma baita cicatriz no lado do corpo. Fiquei morrendo de pena, mas não fiz nada... deixei lá, no canto da rua (já chega os quatro de sempre, que mal me veem saem correndo e pulam e me lambem e me arranham - eu digo (como se eles entendessem): passa, cachorrada, desta vez não tem nada!).
E hoje, indo pro centro de bike, não é que acontecem TRÊS acidentes envolvendo bicicletas? Dois comigo. Uso uma bike velha, sem freio. Aí tô indo pelo calçadão aqui da praia. Entre um trecho e outro, tem umas rampas de acesso, estreitas. Vem um gurizão em sentido contrário. Fomos desviar um do outro e saímos os dois pro mesmo lado. Bah, eu vinha com velocidade da descida da rampa, me estarrachei no chão. Fodi meus joelhos e deixei a bicicleta, que já era meio desengonçada, virada num ferro velho. O guri - que deve ter uns 14 ou 15 anos - foi gente boa, perguntou se eu tava bem. Ele saiu ileso pelo jeito. Perguntei: tu também tá sem freios? Ele disse: é, os caras roubam os freios. E mostrou a bike, bem nova até, só que sem freios. Buenas, segui adiante. Duas quadras além, uma cena tétrica: uma bike toda detonada no meio do asfalto ao lado de um lençol branco cobrindo um volume grande. Perto um carro duma empresa de segurança com o parabrisa afundado e estilhaçado. Não fiquei olhando muito. Me dei por feliz que meu acidente rendeu apenas umas escoriações leves. Antes de ir embora ainda pude ver entre os curiosos a guria de que te falei, a negra. Estava ainda mais interessante.
O terceiro acidente aconteceu quando eu já estava voltando pra casa. Vinha pedalando pela via das bicicletas, no outro calçadão aqui da cidade. Só que com trombada de antes, minha bike ficou puxando pra um lado. Teve uma hora que convergi pra esquerda bem na hora em que vinha uma outra bike. Eu não tinha como saber. Era uma guria. Ela se desequilibrou um pouco e foi andando colada no meio fio. Pensei "bom, é só ela frear e tudo se resolve". Só que ela não freou. Continuou indo rente ao meio fio até que perdeu totalmente o equilíbrio e caiu. O foda que ela deu de cara com uma placa de madeira plantada no canteiro. Eu parei a minha bike e fui ajudá-la. Todo atrapalhado, cheguei pisando na bicicleta da guria e quase caí um tombo também. Perguntei se ela tava legal. Ela disse que sim, mas não parecia muito convicta. Não sabia se ela tava braba comigo, por isso falei: desculpa, mas eu não tinha como saber que tinha alguém atrás de mim. Tentei ser gentil (inda mais que era uma gostosa), mas ela simplesmente pegou a bicicleta e saiu o mais rápido que pode.
Aí voltei pra casa, parando a cada 20 metros pra chutar o pneu dianteiro que ficou torto depois do acidente e insistia em roçar no garfo da bike.
Ah, teve um galo gigante que vi morto também. Num ninho de macumba. Não gosto dessas coisas.